Thursday, October 14, 2010

A terceira margem

A porta bateu e lá se foi meu velho pai
Tão pequeno e frágil eu era que não pude
Não pude compreender o que se vai
Nem sempre volta pra casa, pra nós
Ouvi o povo falar, comentar do que se foi
A canoa no longo rio de uma margem a outra
No mesmo ritmo, sem parar, sem voltar
Cada um que tentou, não se convenceu
Mas vi sonho, admirando o pai meu
Tracei minha vida às margens do Rio
Do pai eu vou cuidar em qual água, ainda mar
Mas só ouvia o silêncio da canoa, o sopro
Do vento e a corredeira do Rio, amiga fiel
Eu sempre na margem esperando algo sem saber
Sem nem imaginar o que poderia acontecer
Invernos, verões, primaveras, quantas delas
E eu a observar o meu pai envelhecendo no Rio
Um dia ele veio até a Margem, finalmente à Margem
Momento esperado, tanto tinha ensaiado, sonhado
Pediu-me que assumisse o seu o lugar na canoa
E eu estaria a navegar naquele mesmo rio longo
Andaria ele de uma margem à outra como fiz eu?
Tremor, temor, rancor, amor, não sei, não pude
Trocar de lugar com ele, já cansado do Rio, já
Cansado de tudo, já cansado das mesmas margens
Faltou-me coragem, faltou-me força, paixão
Mas a quem não faltaria?

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