Em dia de eleição acontece cada coisa na seção de voto… Essa engenhoca ainda não está tão bem aceita entre todos os eleitores, especialmente os mais "tradicionais". Além disso, as opções de votos estão cada vez mais escassas, o que dificulta na hora de apertar os botões, sobretudo quando o sujeito resolve deixar para escolher o candidato somente na hora H.
Tem sempre um eleitor tipo o Sr.Gaspar, eleitor assíduo da seção. Homem meio rude e desempregado, chateado com os políticos, descarregou a sua raiva na maquininha, que não aguentou a dedada e, deslizando da mesa, caiu no chão. Ao vê-la prostrada, Gaspar parou, pensou nos governantes, preparou o pé e quase bateu o pênalti… Eu tive que salvar a pobre coitada e evitar que os outros na fila o linchassem (ou o agradecessem efusivamente com um abraço extremamente caloroso, quebrando-lhe os ossos).
O que nunca falta é a mãe com uma criança de 12 anos no colo… Putz! Como explicar a palavra lactante? Ok, ok… Tento sempre dizer que a criança DE COLO é aquela pequenina figura angelical, frágil, que ainda não sabe andar com as próprias pernas. Mas as histórias são tão longas e complicadas para tentar justificar o marmanjão agarrado ao seu pescoço, que o aumento da fila não compensa. Passo logo a malaca pra frente e pronto.
Certa vez, uma jovem, representante da mocidade brasileira, estava demorando muito para votar. Eu a interpelei sobre a demora. Na maior simplicidade, me disse que estava escolhendo o candidato mais "gatinho", através das fotos que apareciam na telinha. Em contrapartida, uma senhora já idosa solicitou um papel e uma caneta. Surpresa com o pedido informei que não era necessário, bastava teclar os números e, em seguida, a tecla de "confirmar". Foi aí que a velha senhora, do alto da sua sabedoria, disse o seguinte:
- O papel é para eu anotar o número do candidato, pois eu sei que ele não vai fazer nada por mim. Porém, quem sabe se eu jogar no bicho não posso ganhar alguma coisa.
Agora, o fato mais curioso que vi acontecer nas eleições não se passou em minha seção. Foi na família de um amigo, a família Pedreira.
Pedreira Pai, aposentado, é um senhor cônscio dos seus deveres de cidadão, morador da pequena cidade e conhecido por todos.
Na véspera do dia da eleição, ele já estava com os documentos todos separados e tinha também preparado a roupa para o grande dia. Queria votar de terno e gravata, pois dizia que era um acontecimento especial e merecia toda aquela pompa.
Ele lembrava o tempo que não havia eleições.
Pensando bem, Pedreira Pai tinha razão, "a democracia é o bem maior de uma Nação e o voto OBRIATÓRIO é a alma da democracia"
Todas as eleições, saia cedo de casa, não adiantava os filhos ou a esposa falarem. Ele sempre era o primeiro a votar somente para não perder a chance de inaugurar a urna cantante na sua seção.
- Querida não se preocupe vou lá, voto e logo, logo, estou aqui para comer a feijoada.
Claro, dia de festa merecia um prato especial e, de preferência, genuinamente brasileiro.
As horas se passaram e nada do Pedreira Pai chegar. A esposa já estava preocupada.
Os filhos procuravam mantê-la calma dizendo que o pai deveria ter encontrado algum amigo antigo e juntos deveriam estar fazendo boca de urna para ver quantos amigos ainda estavam vivos.
Quase 16:00 horas e nada dele... a patroa super nervosa. Os filhos foram no pronto-socorro, na delegacia, no cemitério... Nada!
Vendo aquele alvoroço um vizinho informou que tinha acabado de votar e viu que o Sr. Pedreira estava trabalhando como mesário.
Às 18:15, eis que ele chega em casa. Foi aplaudido por todos. Era um exemplo cívico para a família inteira! Chateado, ele explicou que havia faltado um mesário e como ele era o primeiro da fila, foi convocado na hora. Ainda falou:
- Que "rabo de foguete"! Pelo menos, ainda tem a feijoada.
Meio sem jeito, a Sra.Pedreira disse:
- Você demorou, o pessoal tava nervoso… A feijoada acabou.
- Não sobrou nada?
- Deixe-me ver… Hummm… só um rabicó de porco.