Sunday, March 24, 2013

A linha que está logo ali

Ainda está morna. Os pés conseguem dizer quão forte o sol tinha brilhado naquele dia de janeiro. Mas agora, já com o céu tomado pelo alaranjado da despedida da grande estrela, a areia fazia um carinho, como se quisesse recompensá-lo por tudo o que tinha passado. Que ano! Em sua mente havia muitas esperanças renovadas e, ao mesmo tempo, um medo de que nada mudasse. Ali já não havia ninguém, que não o gigante mar. Nunca havia olhado nos olhos do mistério como naquele momento. Será que esperava alguma resposta? Talvez as ondas lhe trouxessem alguma mensagem em uma garrafa ou, então, o seu som imponente, na verdade, dizia-lhe alguma coisa: faça, vá, vivencie...

Foi melhor que sentasse. Tem uma linha bem ali que separa o que suas vistas podem atestar e o que o seu coração pode enxergar. 

Friday, March 15, 2013

A CERCA

A cerca estava bem depois daquela árvore. Um dia me levantei pela manhã e ao caminhar notei que haviam-na mudado de lugar! Meu espaço agora era menor, mais limitado. Entristeci-me. Gostava de me sentar debaixo da árvore, desfrutar da sombra e poder chamá-a de minha... Minha árvore... Não temos nada nessa vida que esteja fora da nossa mente. Agora me impede a cerca de caminhar até onde eu costumava me refugiar, onde pensei ter segurança, certeza de aconchego. O rio que me banhava nas tardes quentes também ficou pro lado de lá da cerca. Nos dias de trabalho agitado, da lida puxada, não sei onde mais me refrescar. Também me agradava cuidar do espaço, carpir e podar, mas agora já não minhas mãos tocam aquele solo. Não posso entrar onde não me deixam, não posso cuidar, não posso aproveitar... Ao menos contemplo, e sim isso me é um consolo. Concedido. Pode ser que um dia me permitam passar por baixo ou superá-la com um pulo, para uma ajuda qualquer, um favor amistoso. Contudo, sinto que não tirarão a danada do novo lugar. No final do dia teria de voltar pro meu canto, sem esperar nada em troca, sem cobrar que me cedam um pedacinho da terra.
Todos os dias ao levantar-me vou correndo ver se algo se modificou, se posso ir além do limite de ontem, mas nada... A cerca continua encurtando o espaço que pensava erroneamente possuir. E mesmo sem ter uma placa, posso ler o aviso que está por toda a cerca: “Daqui você não pode passar! Afaste-se!”. Dá também pra ver a árvore que é de não-sei-quem.

Wednesday, March 13, 2013

Tradução - Love you 'till the end

Te amo até o fim

Eu quero simplesmente estar contigo
Quando você estiver sozinho
Quero te segurar como eu puder
Quero ser com quem possa contar
Quando a luz da manhã irradia
E é refletida em seu rosto
Sei que não tenho como escapar
Te amo até o fim
Eu não quero dizer nada que você não queira ouvir
Tudo o que eu realmente quero´é
Dizer pra você
Por que não me leva pra onde
Nunca estive?
Eu sei que você quer ouvir,
Quer tomar meu fôlego
Te amo até o fim
Quero estar presente, quando estiver preso na chuva
Eu só quero te ver sorrir, não chorar
Só quero poder te sentir
E quando a noite chegar...
Eu me perco nas palavras, não me diga
Porque tudo o que posso dizer
Te amo até o fim

Thursday, March 7, 2013

Na Rocinha

E é todo um aglomerado. A menina que passa, os garotos que correm, o rato que cruza o caminho. O cheiro dos sabores das casinhas ainda por terminar, cujas portas dão para um interminável beco, se mostram sempre acolhedoras, sinceras. Ali muitos estão. E cozinham. E trabalham. E vivem. Convivem com hóspedes desconhecidos empunhando armas imponentes e ameaçadoras. Antes tivessem levado mais escola, mais estrutura, cultura, mais dignidade. A beleza da favela é a armadilha que nos faz pensar que está tudo bem, porém, ainda olhando da privilegiada vista, se vê as mansões que os segregam em outro mundo: é uma diferença só...