Thursday, September 30, 2010

Porque eu gosto de você

Eu gosto de você porque, pra começar, você é estranho.
                   Você não é igual a todo mundo; você é você.
Eu gosto de você porque você nunca me enganou e poderia tê-lo feito
                   Você tem um olhar sincero, confiável e verdadeiro
Eu gosto de você porque você é tão diferente de mim, mas com muita coisa em comum
                   Você me ensina a ver com uma óptica diferente aquilo que sempre vi
Eu gosto de você porque você nunca me dá as respostas que eu espero
                   Você vem com algo simples e prático, que sempre me arranca um sorriso
Eu gosto de você porque tem beleza externa e interna; profunda e consistente
                    Você é autêntico, humano e intenso, sem superficialidades
Eu gosto de você porque você me inspira a fazer coisas novas e melhores
                   Você tem algo bom e natural, que me incentiva, motiva e impulsiona
Eu gosto de você porque você me  ajudou a me conhecer melhor, sem ter medo do que sou
                   Você trouxe uma nova cor, um novo som, uma nova estação
Eu gosto de você porque você é educado, me tolera e me respeita
                   Você não me faz sentir menor pelo que eu penso, sinto ou sou
Eu gosto de você porque, mesmo na distância e na ausência, está presente
                   Você, mesmo sem saber ou se importar, faz uma grande diferença

Eu gosto de você porque eu gosto. Assim. De graça.
                    Sem esperar nada em troca
                    Sem esperar sua consideração
                    Sem esperar a sua atenção
                    Sem, tampouco, esperar o seu gostar
Eu gosto de você sem pretensão, sem ilusão, sem alienação
Eu gosto de você consciente de que tudo um dia se esvai
Eu gosto de você pois isso me faz mais feliz, mais humana, mais mulher. 

E mesmo se você deixasse de ser
                    Educado
                    Prático
                    Sincero
                    Estranho
Mesmo que você finja que eu não escrevi isso para você
Ainda assim, seria impossível eu deixar de gostar de você
Porque lá no fundo, talvez nem eu mesma saiba o porquê
Por que eu gosto de você?

Wednesday, September 29, 2010

Antes de eu pegar o trem

Antes de eu pegar o trem, por favor,
Deixe-me apenas lhe dizer o quanto fez diferença
Ter deixado que segurasse a minha mão e
Ter me permitido ser um pouco mais balda do que já sou
Eu andava por um caminho de dúvidas e incertezas
Mas pude  ficar segura de quanto estou certa e de que
Não há dúvidas de onde não está a minha felicidade

Antes de eu pegar o trem, só queria
Que soubesse que gostei de ter caminhado
Alguns poucos passos com você por perto
E por ter me sentido parte de alguns momentos
Pude aprender muitas coisas novas que me ajudaram
A perceber coisas novas em mim mesma,
Principalmente que eu ainda podia querer muito bem

Antes de eu pegar o trem, esteja certo
De que eu não presto atenção em tudo,
Mas prestei atenção em tudo que vem de você
E que, quando encostei minha boca em outra
Que não era a sua, pude ter a certeza de que
Vou ter de ser fiel aos meus sentimentos
Até o dia em que dia tudo mudará, naturalmente

Antes de eu pegar o trem preciso confessar
Minha maior tristeza e o meu grande medo:
Há tristeza porque não foi possível que me conhecesse
E o meu grande medo é que, ao partir o trem,
Nunca mais eu volte a encontrá-lo ou vê-lo...

Não preciso que me leve até a estação
Nem que diga que também sentirá saudades;
Não sou tola; sei que jamais você o faria
E não me incomodo por não fazer a mesma diferença
Basta que eu o enxergue de relance em uma passagem
Pela qual o trem atravessar, mesmo que rapidamente
Basta que eu ouça sua música ao longe, de longe 
Para que eu tenha uma viagem tranquila e em paz. 

Tuesday, September 28, 2010

Liberdade

  Há algo melhor do que sermos nós mesmos?
  Sem medo de assumir o que somos,
  O que pensamos ou sentimos?
  Sem receio de apenas dizer a verdade?

  Há algo melhor do que sermos nós mesmos?
  Sem a vergonha de expressar o que percebemos,
  O que vivenciamos e o que acreditamos?
  Sem temor às consequências ao, apenas, viver?

  Há algo melhor do que sermos nós mesmos?
  Sem a tentativa de camuflar o que está em nós?
  O que é intrínseco e não temos como negar?
  Sem preocupação ao mostrarmos nosso eu?

Para quando ficar na dúvida

O que é sentir saudade?
                        É, primeiramente, vislumbrar todas as possibilidades. O oceano vira um pequeno rio que poderia ser atravessado a nado. Qualquer dificuldade fica muito pequena diante da ausência, diante do abismo e sensação de vazio que este sentimento traz consigo. Sentir saudade é ter persistência e insistência. É não aceitar substituições ou soluções paliativas. É o querer estar junto, perto, sentindo a respiração e o coração bater. No dia em que preencher sua saudade com um livro, um amigo ou uma festa, esteja certo: você não sente saudade, possui apenas uma boa lembrança...
O que é sonhar?
                        É acordar a si mesmo para dentro. É perceber os desejos, mesmo que sejam aparentemente absurdos, e acreditar que são possíveis. Sonhar é a capacidade de transcender ao concreto e visualizar o mundo com um novo olhar, encontrando as saídas e as soluções. Sonhar é reconhecer-se forte e capaz. No dia em que acordar e pensar que o seu sonho é uma grande besteira, esteja certo: você não sonhou, apenas dormiu menos do que deveria.
O que é a paixão?
                        É um sentimento tão intenso que te faz não se importar mais com os conceitos de “errado”, “tempo” e “ridículo”. É o estado em que não vê mais utilidade para o aviso “não pise na grama”, justamente porque não sente mais os pés no chão. É o que acalenta a alma e a faz mais vívida. É um monte de boas sensações misturadas de forma indescritível. É o que te causa arrepios. No dia em que olhar para alguém, vislumbrar a sua beleza e admirá-la, esteja certo: você não se apaixonou, apenas sente uma atração; em algumas horas, passa.
O que é alguém especial?
                        É alguém que não se compara. Única. Com qualidades raras. E defeitos também. É alguém com quem você tem um compromisso, não porque alguém impôs, não porque alguém assim oficializou; mas porque é natural para você respeitá-la, querer estar apenas com essa pessoa. Tratá-la também de forma única. Alguém especial é a pessoa que te faz querer ser melhor, se arriscar e crescer; sair da zona de conforto e enfrentar um novo mundo. No dia em que conhecer alguém diferente, mas não conseguir sentir diferença quando está com ela, esteja certo: será apenas mais uma pessoa a cruzar o seu caminho. Rapidamente.
O que é amor?
                        Além dos conceitos dos grandes poetas, basicamente, é um querer bem gratuitamente. É um gostar sem esperar nada em troca. É quando se coloca muita força para ver a felicidade de outra pessoa, sem que signifique sua própria felicidade. É também a força que te faz vencer os medos para sair daquela zona de conforto. Que te faz enxergar tudo de forma diferente e te faz vencer preconceitos e aceitar as diferenças. É o que te inspira. No dia em que sentir que gosta de alguém, mas isso te incomoda ou te faz mal, esteja certo: você ainda não descobriu o amor, apenas quer ter ou estar com alguém, na maioria das vezes, na base da troca.

Então, antes de, em vão, usar uma dessas palavras, de repente, dizendo que sente saudade ou que sonha com alguém especial por quem está apaixonado, pense bem. Certifique-se. Os sentimentos podem te deixar confundido, mas as palavras têm efeitos certeiros.

Monday, September 27, 2010

Eu tenho um péssimo gosto

Por que gostamos de entregar
Nosso coração a quem não o merece?
Não seria melhor olhar para
Quem também nos enxerga?
Não seria mais cômodo estar
Com quem tanto deseja nossa companhia?
Mas não. Gostamos de ser ignorados
Talvez nos faça bem o desprezo,
A indiferença, a frieza, a distância
O que buscamos afinal?

Eu tenho um péssimo gosto
Gosto do que está longe
Gosto do que é errado
Gosto do que é impossível
E pareço gostar de saber disso
Seria possível?

Por que gostamos de desperdiçar
O tempo com versos não lidos,
Não queridos, não valorizados?
É apenas poeira ao vento,
Algo sem valor ou sem poder
Por que gostamos de olhar para a pedra
E insistir em vislumbrar algo nela?
Por que a queremos tão especial
Se ela é apenas mais uma entre tantas?
Gostamos de ser enganados por nós mesmos

Eu tenho um péssimo gosto
Gosto do que está acabado
Gosto do que não importa
Gosto da expectativa incerta
E pareço não sofrer com isso
Seria plausível?
Não seria,
É apenas um péssimo gosto

Eu não penso como ninguém! (então você pensa como alguém)

E tem aqueles que não gostam de sertanejo porque preferem as músicas clássicas, blues ou os estilos que poucos escutam (claro!)... Sentem-se diferentes, únicos por não irem “pela cabeça de ninguém”. E tem aqueles que obviamente não vêem novela porque preferem gastar o tempo lendo um livro bem complexo. E se enxergam dentro de um grupo seleto, quase como se fossem especiais, acima dos “outros”. São muitas situações em que aparecem: no gosto por comida, por literatura, por roupa e até por hobbies. Fogem à regra. Bem, mais ou menos.

Não precisaria ter sido um lingüista, mas foi. Foucault já dizia que sempre reproduzimos vozes ideológicas de outrem. Ou seja, nada do que pensamos, absolutamente nada, é puro. Tudo é construído a partir do que ouvimos, do que vivenciamos e do que selecionamos para nós (e esta seleção, por sua vez, também é condicionada por vários fatores). Somos sujeitos sócio-historicamente constituídos, totalmente influenciados pelo meio e contexto no qual estamos inseridos; e é impossível fugirmos desta realidade. Se criticamos o sertanejo pop (putz, fiquei sabendo que existe este termo!!!) é porque reproduzimos alguma voz que, em algum momento, nos convenceu de que este gênero musical não é “bom”. Se criticamos a atitude de alguém (normalmente porque temos o caminho da verdade em nossas mãos) é porque nosso conceito de certo e errado foi definido a partir de uma ideologia X ou Y. Nunca a mescla XY (não seríamos autênticos o suficiente para aceitá-la).

Tudo é influenciado e quando tentamos não nos deixar influenciar, inevitavelmente caímos num outro grupo. Já reparou como somos parecidos com os nossos amigos? Normalmente, curtimos as mesmas festas, as mesmas atividades, pensamos de forma semelhante... Não é à toa. Vamos nos aproximando de nossa(s) tribo(s). E excluímos as outras. Nos achamos melhores que elas. Superiores. Detentores de uma falsa verdade (eu odeio esta palavra).

O diferente mesmo é o que consegue transitar entre os grupos, sem julgá-los; que se interessa por conhecer cada espaço, cada pensamento e respeita a todos. É o que olha pro sertanejo pop, mesmo sem gostar, e enxerga alguma beleza (ainda não evolui a tal ponto) ou o que, mesmo sem entender, olha pro clássico erudito e tenta apreciar. Não é concordar com tudo, mas é saber discordar. Sem ofender. Sem se colocar acima do bem e do mal (aliás, o que seriam essas duas palavrinhas??).

O primeiro passo viria da humildade ao reconhecer que nossas ideias não são tão nossas assim. O único ser humano com ideias puras foi Kaspar Hauser (se é que ele realmente existiu). Aquele criado num calabouço e que acabou assassinado porque, mesmo com sua inocência intrínseca, conseguia pertencer a grupo nenhum. Dizia o que lhe ocorria à mente. Sem preconceitos. Sem medos. Bom, mas ele me dá ideia para um outro texto...

A verdade é que, ao tentar ser você mesmo, você já está sendo uma outra pessoa. É
o grande paradoxo de nossa existência, maior até do que o fato de que, ao nascer, começamos a morrer.

O homem sentado no banco

O homem sentado no banco
Não vê a vida passar
Vê as coisas tão distantes
Do povo perto a transitar
Vê o menino com seus livros
Tanto sonho leva no olhar
Tanta esperança que já foi perdida
Mas ainda não parou de caminhar

Vê a moça bonita sorrindo
Mas com tanta coisa que perdeu
Uma amargura no peito contida
Algo antigo que ainda não morreu
Vê a gente brincando de amor
Fingindo ou querendo ser feliz
Há em nós algo que já foi bom
Algo que já nos tirou do triz

O homem sentado no banco
Não é só um homem, coitado
É um poeta, um trovador
Enxerga a alma, enxerga além
Vê o que não vê: percebe o amor

Como me inspiraria mais?

Quanto mais eu me afasto
Mais me aproximo do que não quero
Se eu finjo que já não importa
Sofro quieto e sou desmascarado

Quanto mais eu tento negar
Há apenas afirmação em meu olhar
Desejaria não ter que esconder
Mas sou fraco e fico calado

Quanto mais eu quero fugir
Sair por aí sem me lembrar
Só encontro com o que me remete
Só vejo o que me lembra você

Desisti. Não tem o porquê.
Afinal, como me inspiraria mais
Como teria sonhos mais belos
Se não fosse a existência deste ser
Tão longe, tão ausente, tão inocente?
Mas que, com poucas palavras
Quase nenhum gesto ou ação,
Consegue fazer com que o sol
Passe a brilhar de forma mais intensa
E a lua a iluminar com mais poder
A noite escura