Thursday, December 16, 2010

EFEMERIDADE

Quando vamos perceber que a vida acaba?
Quando vamos nos dar conta de que não vale a pena
Brigar porque tivemos que esperar por algumas horas a mais,
Chorar porque nosso dinheiro não compra o carro do ano,
Sofrer porque não retribuem tudo o que fazemos?
Quando vamos aprender que o amor é gratuito,
Que a amizade é um dom e perdão não é fraqueza?
Quando vamos enxergar que o tempo passa rápido
E pode interromper o amanhã?
Posso não terminar de escrever isto agora
Então, por que esperar?
Quando será o dia em que o perdão será o primeiro,
A tolerância não sairá de perto de nós
E a compaixão guiará nossas ações?
A vida passa, a vida acaba...
E nesse dia, o choro, a briga, o sofrimento serão nada
Então, por que esperar?
Por que esperar para dizer que ama?
Por que esperar para perdoar?
Por que esperar para ser o que nós somos?
AME agora!
PERDOE agora
SEJA agora
- O que os outros vão pensar?
Não importa!
E talvez só resolvam falar amanhã...

Tuesday, November 30, 2010

Tarde de chuva

                 Dizem que foi o dia quente.
                                        .
                                                     
                                          Uma simples e repentina mudança no tempo.
                                                                          
        
            Há os que pensam ser típico da estação.
                                                                                                    
                

                                Contudo, para mim, os céus apenas tentam me ajudar,
                           
   

                                                                                   Chorando as lágrimas as quais preciso segurar

Thursday, November 25, 2010

Poucas palavras

No dia em que me disser
Ah, no dia em que ousar me dizer...
Nada mais será igual
Nem mesmo as paisagens da manhã
Que já são tão belas
Ficarão ainda mais luminosas
Com o esplendor das palavras

No dia em que pronunciar
Ah, no dia em que tiver essa certeza
Um novo mundo se abrirá em mim
E sei que em você assim também será
Haverá mais caminho a percorrer
E surgirá um brilho novo no olhar
Refletindo a luz de cada palavra

No dia em que me disser
Ah, esse dia que parece ser tão distante
Vou finalmente encontrar plenitude
Não por ego ou porque eu espere troca
Mas sempre me pergunto e imagino
O quanto seria natural e me faria bem
Se o sentimento que carrego em mim
Estivesse, mesmo que por um dia,
Ou apenas no instante em que me disser,
Também em seu coração

Monday, November 22, 2010

Meu lugar especial

É aqui onde eu encontro silêncio
E  onde me sinto segura
Calmaria que me faz flutuar
Paz que me faz sentir  livre
É bem aqui onde me sinto real
Lugar que me faz ser única
Num instante único e eterno
É aqui onde mais me encontro
Mais me percebo e mais quero estar
É aqui, em qualquer parte do mundo,
Bem aqui... em seu peito...
Ele se encaixa perfeitamente em mim...

Friday, November 19, 2010

Anestesia Geral

Eu não tenho medo de sentir dor
Nem temo agulha de doutor
Sem problema posso encarar
Com minha força, sem gritar
Só há uma coisa tirando o ar:
Com anestesia não dá pra sonhar

Geral, anestesia sem grau, normal
Geral, seria algo banal, sem mal
Mas todos os sonhos se vão
Momento real de ver a escuridão
Normal um mal sem grau, banal:
Sem moção ou ação: anestesia geral

Eu não quero andar sem não perceber
Não notar a realidade à mercê
Sem coragem pra isso enfrentar
Com temores impróprios a pairar
Só quero andando sempre acreditar
Mas com anestesia não dá pra sonhar

Eu não quero mais dormir
Sem poder sonhar
Não quero mais acordar
Sem conseguir sorrir
Eu quero sonhar, sorrir, acreditar
Com anestesia não dá pra sonhar

Thursday, November 11, 2010

Para ajudar os homens (texto de Aurora Catarina)

Eles dizem que não nos entendem. E não entendem mesmo...

Na verdade, não tenho a receita pronta. Tão pouco explicação científica para as variações hormonais que afetam nosso humor. E pra piorar, a singularidade de cada ser humano dificulta uma conclusão exata que defina o nosso comportamento. Mas o que eu sei, é que tem coisas que fazem uma mulher se apaixonar. E melhor do que se apaixonar uma vez, é poder se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa...
Ora, nós não queremos ser compreendidas, nós queremos ser amadas.


Nos dias em que ela acorda de TPM e não tem vontade de fazer chapinha no cabelo - Olhe para ela e diga o quanto é linda. Não mencione o quanto você ama sua personalidade e sua inteligência naquele momento, mas enfatize toda a beleza que você vê na mulher que acorda de manhã com a cara amassada. Mulher gosta de se sentir desejada e admirada, também, por seus atributos físicos (continue fazendo isso, mesmo depois que as rugas tomarem conta do rosto, e a gravidade agir no corpo. Homem e mulher envelhecem na mesma proporção).
Quando reclamar de uns quilinhos a mais - a única coisa que ela quer ouvir é "você está linda, eu nem percebi". E mesmo protestando, ela vai sorrir por dentro, agradecendo por ter alguém tão especial na sua vida. E a autoestima cresce, e ela fica mais confiante e mais bonita a cada dia.

E quando não dá aquela vontade de encostar a barriga no fogão - se ofereça pra fazer o jantar, ou a convide pra jantar fora. Surpreenda. Compreenda que o dia não foi fácil. Divida com ela suas preocupações e suas alegrias no final do dia. E escute, mostre que se interessa pelas preocupações dela. Preste atenção. Ela vai admirar sua capacidade de lembrar coisas que ela disse ou fez. Agora sim, enfatize o quanto à admira pela sua inteligência e personalidade.

Quando ela te surpreender – valorize, dizendo o quanto você gostou do que ela fez. Não agradeça como você agradeceria qualquer outro favor feito por um amigo, com um “Obrigado, não precisava ter se incomodado...”. Mostre o que aquilo realmente significou para você. E, se não tiver te agradado, escolha o momento certo para dizer.

Nos dias que ela está intocável e não quer fazer amor - mostre que você respeita a sua vontade. Durma abraçado com ela, e seja protetor. Deixe-a sentir-se segura. Diga que a ama.


Nos dias em que ela está doente - mostre que se preocupa. Deixe-a escolher os canais de TV. Não saia do lado dela. Compre chocolate. Diga que a ama.

Quando ela deixar uma festa para ficar com você (quando circunstancialmente não puder acompanhá-la) – não tente entender (não vai conseguir mesmo!), apenas ame-a e demonstre que ficou feliz por ela ter optado estar contigo. Faça valer a pena.



Quando vocês estiverem no meio dos seus amigos – apresente-a para as pessoas. Enfatize afinidades. Deixe que ela converse com eles, mas volte para constatar como ela se sente no meio deles. Isso a deixa segura de que você sempre vai estar por perto quando ela precisar de algo.

E, acima de tudo, sempre mostre quanto você a valoriza. Quanto faz diferença para você tê-la por perto. Mulher adora ouvir que você gosta dela, ouvir que você a ama e a quer ao seu lado. Não fique esperando apenas que ela diga para você responder “eu também”.

Tenha iniciativa. Arrisque-se. Surpreenda.  Externe o que sente. Não somente com palavras, mas com atitudes. O importante é não perder a chance de conquistá-la todos os dias...

Wednesday, November 10, 2010

Só quero estar perto

Eu só quero estar perto
Mesmo que por cinco minutos
Mesmo que seja só para te olhar
Mesmo que não fale comigo
Mesmo que não faça o mesmo por mim

Eu só quero estar perto
Mesmo que eu tenha que correr
Mesmo que haja trânsito
Mesmo que eu perca o jantar
Mesmo que eu acorde mais cedo amanhã

Eu só quero estar perto
E te abraçar na conquista
E te abraçar no fracasso
E te abraçar no caminho em busca dos seus sonhos
E te abraçar...

Eu só quero estar perto
E mesmo quando você for pra longe
Vou sempre encontrar um meio
Talvez seja uma canção
Talvez seja um poema
Ou talvez seja eu pegando um avião
Você só precisa me esperar

Friday, November 5, 2010

O poder da (des)informação

"A migração nordestina para o estado de São Paulo, em especial para a capital, foi um fenômeno social bastante expressivo ao longo do século XX, especificamente a partir da década de 1930, quando o número de imigrantes estrangeiros vindos para São Paulo foi superado pelo número de migrantes nacionais (dos quais a maioria era de nordestinos)" (FERRARI, 2005).

É inaceitável! É inaceitável que algum grupo de GENTE, se sinta superior a outro grupo de GENTE. É inaceitável que, dentro de um mesmo país, onde - felizmente porque há muita beleza nisto - há vários outros países, haja qualquer tipo de discriminação ou preconceito! É inaceitável que um absurdo deste surja de uma pessoa que deveria conhecer leis e contribuir para o seu cumprimento! Já é uma estupidez expor uma opinião infundada. Agora, expor uma opinião que se torne uma atitude xenofóbica é burrice.

Outro dia, um barzinho em São Paulo, "Nord Est", muito conhecido por sua animação e comida boa, recebeu uns estudantes de direito da UniSomeThing. Eles resolveram dar uma escapadinha da aula de legislação. Afinal, o professor abordaria as diversas formas de discriminação e, como já é um assunto batido e eles são gentes espertas, não faria tanta falta...

Todos chegaram bem cedo para garantir um lugarzinho perto do palco. O Trio Virgulino estaria ali logo mais. A última a entrar no bar foi Giselda Walktalk, uma gata muito in-teli-gente que acabou pegando um trânsito horrível e teve que esperar por um táxi, já que era rodízio de seu Eca!Sport. Mas tudo bem, o cearense que dirigia o taxi foi divertidíssimo, contando as mil e uma peripécias da cidade que não dorme nunca.

Ao chegar no bar, Gigi já estava com fome e, antes mesmo das brejas, tratou de pedir ao garçom que providenciasse o famigerado escondidinho de carne seca, especialidade da casa. A moçoila reparou também na presença do gatíssimo Augusto, o cara mais culto da turma. Não teve dúvida: acessou a internet de seu celular e tratou de pesquisar algum assunto interessante no google que pudesse discutir com ele e que a fizesse (ou melhor, que demonstrasse o quanto era) mais inteligente. Imaginou que seria mais fácil falar sobre política. Era o assunto do momento, já que as eleições presidenciais haviam ocorrido no domingo anterior. Gigi estava chateada com os resultados. Parecia uma coisa de pobre ter votado na candidata vitoriosa. Ela não! Ela tinha votado no outro. Muito mais fino, claro. Começou com críticas leves ao modelo político atual e obteve a atenção de todos. Falava como se entedesse daquilo e como se, de alguma forma, pudesse dar alguma contribuição e agregar conhecimento a alguém. Foi então, que o google resolveu lhe pregar uma peça. Mostrou um mapa, todo coloridinho, que mostrava em quais regiões especificamente a candidata havia vencido e cismou de colocar a culpa no nordeste. Primeiro que ela nunca gostou de geografia (e ia muito mal em artes também!); segundo, que ela sempre teve a ideia de que onde havia mais desenvolvimento econômico, havia também mais discernimento; terceiro, que ela não tinha a menor ideia de quantos eleitores havia em cada região: deu besteira. A menina disparou sua acusação contra a região nordeste, levantando ofensas extremamente discriminatórias. Alguns acharam graça, outros concordavam acrescentando outras besteiras, encorajando-a. Gigi se sentiu tão importante que resolveu publicar tais pensamentos no Twitter. Era quase uma Pop Star. Com certeza, Augusto já estaria apaixonado. Porém, para a surpresa de todos, o mocinho levantou-se e foi embora. Uma das amigas levantou a hipótese:

- O apelido dele era Augusto Paraíba. Será que tem a ver?

Do outro lado da Rua, Augusto ligava para um tio influente na OAB de seu estado natal, relatando o ocorrido. Enquanto falava, ria da forma como seus colegas tentavam, dentro do Nord Est, acompanhar o Trio Virgulino no majestoso Forró Rastapé.

Friday, October 29, 2010

Historietas de uma mesária

Em dia de eleição acontece cada coisa na seção de voto… Essa engenhoca ainda não está tão bem aceita entre todos os eleitores, especialmente os mais "tradicionais". Além disso, as opções de votos estão cada vez mais escassas, o que dificulta na hora de apertar os botões, sobretudo quando o sujeito resolve deixar para escolher o candidato somente na hora H.

Tem sempre um eleitor tipo o Sr.Gaspar, eleitor assíduo da seção. Homem meio rude e desempregado, chateado com os políticos, descarregou a sua raiva na maquininha, que não aguentou a dedada e, deslizando da mesa, caiu no chão. Ao vê-la prostrada, Gaspar parou, pensou nos governantes, preparou o pé e quase bateu o pênalti… Eu tive que salvar a pobre coitada e evitar que os outros na fila o linchassem (ou o agradecessem efusivamente com um abraço extremamente caloroso, quebrando-lhe os ossos).

O que nunca falta é a mãe com uma criança de 12 anos no colo… Putz! Como explicar a palavra lactante? Ok, ok… Tento sempre dizer que a criança DE COLO é aquela pequenina figura angelical, frágil, que ainda não sabe andar com as próprias pernas. Mas as histórias são tão longas e complicadas para tentar justificar o marmanjão agarrado ao seu pescoço, que o aumento da fila não compensa. Passo logo a malaca pra frente e pronto.

Certa vez, uma jovem, representante da mocidade brasileira, estava demorando muito para votar. Eu a interpelei sobre a demora. Na maior simplicidade, me disse que estava escolhendo o candidato mais "gatinho", através das fotos que apareciam na telinha. Em contrapartida, uma senhora já idosa solicitou um papel e uma caneta. Surpresa com o pedido informei que não era necessário, bastava teclar os números e, em seguida, a tecla de "confirmar". Foi aí que a velha senhora, do alto da sua sabedoria, disse o seguinte:

- O papel é para eu anotar o número do candidato, pois eu sei que ele não vai fazer nada por mim. Porém, quem sabe se eu jogar no bicho não posso ganhar alguma coisa.

Agora, o fato mais curioso que vi acontecer nas eleições não se passou em minha seção. Foi na família de um amigo, a família Pedreira.

Pedreira Pai, aposentado, é um senhor cônscio dos seus deveres de cidadão, morador da pequena cidade e conhecido por todos.

Na véspera do dia da eleição, ele já estava com os documentos todos separados e tinha também preparado a roupa para o grande dia. Queria votar de terno e gravata, pois dizia que era um acontecimento especial e merecia toda aquela pompa.

Ele lembrava o tempo que não havia eleições.

Pensando bem, Pedreira Pai tinha razão, "a democracia é o bem maior de uma Nação e o voto OBRIATÓRIO é a alma da democracia"

Todas as eleições, saia cedo de casa, não adiantava os filhos ou a esposa falarem. Ele sempre era o primeiro a votar somente para não perder a chance de inaugurar a urna cantante na sua seção.

- Querida não se preocupe vou lá, voto e logo, logo, estou aqui para comer a feijoada.

Claro, dia de festa merecia um prato especial e, de preferência, genuinamente brasileiro.

As horas se passaram e nada do Pedreira Pai chegar. A esposa já estava preocupada.

Os filhos procuravam mantê-la calma dizendo que o pai deveria ter encontrado algum amigo antigo e juntos deveriam estar fazendo boca de urna para ver quantos amigos ainda estavam vivos.

Quase 16:00 horas e nada dele... a patroa super nervosa. Os filhos foram no pronto-socorro, na delegacia, no cemitério... Nada!

Vendo aquele alvoroço um vizinho informou que tinha acabado de votar e viu que o Sr. Pedreira estava trabalhando como mesário.

Às 18:15, eis que ele chega em casa. Foi aplaudido por todos. Era um exemplo cívico para a família inteira! Chateado, ele explicou que havia faltado um mesário e como ele era o primeiro da fila, foi convocado na hora. Ainda falou:

- Que "rabo de foguete"! Pelo menos, ainda tem a feijoada.

Meio sem jeito, a Sra.Pedreira disse:

- Você demorou, o pessoal tava nervoso… A feijoada acabou.

- Não sobrou nada?

- Deixe-me ver… Hummm… só um rabicó de porco.

Thursday, October 28, 2010

Sentido

     Um dia desses, enquanto caminhava em meu jardim, fui questionada por uma amiga cega que perguntou-me:
     - O que é vermelho?
    Fiquei um pouco sem jeito, mas tentei explicar:
     - Vermelho é a uma cor forte, mas que pode ser encontrada na delicadeza de uma rosa.
     - Mas o que é a rosa? - indagou.
    Naquele momento, fiquei um pouco sem graça, pensando como explicaria tal conceito. Por sorte, estávamos passando por uma linda roseira, então tive a ideia de pegar-lhe a mão, fazendo-a tocar nas macias pétalas da flor. Ela respirou fundo, sorrindo. Como se um novo mundo tivesse sido descoberto, me disse:
    - Obrigada. Agora já sei o que vermelho...

Preciosismo

                 O fulvo e voluptoso animal celeste derrama além os fugitivos esplendores da sua magnificência astral e rendilha d’alto e de leve as nuvens da delicadeza, arquitetural, decorativa, dos estilos manuelinos.
                  
                 =

            O pássaro é lindo e enfeita o céu.

Wednesday, October 27, 2010

A entrevista

O cheiro de café forte invadiu a saleta onde dormia Maria, despertando-a de seu sono.  Sonhava com a entrevista que faria naquele dia: a tão esperada oportunidade de emprego parecia ter, finalmente, batido à porta. Estava fazendo uma prece de agradecimento a Deus, quando sua tia a apressou:
- Acorda menina, que daqui-lá é três condução.
Maria não esperou nem mais um momento. Bastaram vinte minutos para que tomasse banho, vestisse sua melhor roupa, engolisse o pão duro com um copo de café e chegasse ao ponto de ônibus. Naquele horário, a pequenina cobertura na calçada estava lotada. Mas não tinha problema. Também não tinha problema ir em pé, apertada, sacudindo dentro do circular.
Durante o caminho, a jovem pensava em sua família: a mãe, o pai, os quatro irmãozinhos... todos deixados em Arapiraca, interior de Alagoas, onde ela, com muito sacrifício, conseguira terminar o ensino médio.
- Não quero que cê trabaie na prantação de tabaco, fia. Cê vai pra São Paulo rumá um imprego mio – tinham sido as palavras incentivadoras de sua mãe quando, na rodoviária da capital alagoana, despediram-se.
Já fazia oito meses que Maria estava com sua tia. Havia distribuído currículos pela cidade inteira, mas ninguém lhe dera retorno. Não queria deixar escapar esta sua primeira chance. Aproveitou o longo trajeto para ensaiar as possíveis perguntas que seu entrevistador ia lhe fazer.
Perdida em seus pensamentos, nem percebeu que a condução – a terceira e última – avançara o ponto em que deveria descer. Rapidamente puxou a cordinha e saltou na parada seguinte.
- Por favor, como eu faço para chegar a esta firma? – perguntou a um transeunte, mostrando o nome da empresa escrito num papel, o qual não conseguia pronunciar.
- Ih, moça, tem que voltar um tantão para trás.
Preocupada em chegar atrasada, saiu correndo – correndo mesmo! – na direção indicada. E valeu o seu esforço. Faltavam dez minutos para as nove, horário marcado para o encontro, quando ela pôde vislumbrar o enorme portão, cujas letras douradas eram idênticas às que estavam rabiscadas no papel em sua mão. Preparou-se para pronunciar o português e apertou a campanhia:
- Bom dia. Por favor, poderia me informar como procedo? Vim para uma entrevista, marcada para as noves horas.
Um homem, que nada tinha de preocupado com o seu linguajar, respondeu-lhe:
- Ah, sim. Entra aí, moça. É só pegar uma senha comigo e ir ficar na fila.
Assim que pegou o papelzinho, número 1533, refilado à mão, Maria andou ao local indicado pelo porteiro. Tinha achado estranho o número alto, contudo, quando chegou à fila, compreendeu: provavelmente a primeira senha corresponderia ao número 1. Com a decepção em seu rosto, a lágrima quase descendo, ela pôs-se a esperar.
Agora os seus pensamentos eram outros, bem diferentes das ilusões criadas para aquela primeira entrevista. Era tanta gente para apenas algumas vagas. Tinha até alguns técnicos formados, outros universitários... Percebeu, afinal, que era apenas mais uma simples Maria em meio à multidão.

Bliss

Talvez seja uma escolha e dure por um momento
Pode ser que seja sorte, destino, acaso incerto
Mas acontece...
É o que sinto quando olho nos teus olhos
E os vejo sorrindo pra mim
É o que sinto quando me abraça forte
E o mundo inteiro para e ouve minha respiração

Thursday, October 14, 2010

Deus existe?

Essa é a pergunta que acompanha a humanidade há muito tempo... Há quem simplesmente deixou ou nunca acreditou; há os que acreditam cegamente sem ousar perguntar-se; há os que preferem pensar que sim como a forma mais plena da esperança de que tudo um dia melhore. Pois bem. Eu prefiro os fatos.

Quando vejo uma injustiça como a de uma criancinha passando fome ou sofrendo qualquer tipo de violência, por exemplo, fico inclinada a pensar que Deus não existe ou, pelo menos, não existe da forma como as religiões o pintaram: onisciente, onipresente e onipotente. Se Deus é todo bondade e todo poderoso como dizem e não faz nada para ajudar a corrigir nossas falhas que devastam a nossa raça, algo está muito errado. Ou ele não quer (e daí não seria tão bondoso assim) ou ele não pode (e, assim, não seria tão poderoso quanto pensam). O que ocorre, mais uma vez, é que o conceito sobre Deus foi totalmente deturpado pelos homens religiosos que o quiseram aprisioná-lo e reduzi-lo a uma divindade que nos vigia o tempo todo com o objetivo maior de um dia poder nos punir e, de preferência, nos mandar pro inferno. A partir daí, resolveram colocar umas regras. E, como os porcos de Orwell, vão adaptando-as para a conveniência da dominação. A fé foi mudando de direção. Não está mais em Deus, mas nas instituições que se julgam suas representantes na terra.

Pois “Deus é uma força estranha, é nosso pé na estrada, é uma voz dentro de nós”. Não me lembro onde ouvi isso, mas gravei. Gostei. Concordei. Deus não existe porque existe. Deus existe porque pode ser vivenciado, atestado, experimentado. Não em uma igreja ou porque alguém assim o quer, mas porque está em nós. É a força que impulsiona e motiva. É o que cria todos os sentimentos bons que temos. Ele está no milagre diário de sobrevivermos perante a violência, à corrupção e a tantos males criados por nós mesmos. Ele está na vontade que temos de fazer o bem para quem não conhecemos, na preocupação com os que precisam. Deus está também, na natureza e em sua perfeição. Ok, ok. Isso não prova nada. Talvez. Afinal, seria possível provar o amor? Como conseguir provar o que sentimos? Não amamos porque temos fé. Simplesmente amamos. Não amamos para sermos amados. Simplesmente amamos. Não amamos em troca de dinheiro. Simplesmente amamos. Isso é Deus agindo em nós. Deus é o que nos faz sorrir mesmo em tempos difíceis. É o que nos faz enxergar nossa pequenez e nosso egoísmo enquanto seres humanos.

Não quero convencer ninguém. Cada um precisa descobrir sua espiritualidade. Mas seria muito bom se todos percebessem o Deus que está em si e no outro. Já que o temem tanto e o respeitam, talvez o relacionamento entre as pessoas mudaria. Seria muito bom se todos percebessem que as divisões religiosas e as ideologias estão muito abaixo do que seja Deus. Que a verdade tão anunciada, na realidade, não tem muito sentido. Saber da existência de Deus é saber que estamos aqui para sermos felizes.

A terceira margem

A porta bateu e lá se foi meu velho pai
Tão pequeno e frágil eu era que não pude
Não pude compreender o que se vai
Nem sempre volta pra casa, pra nós
Ouvi o povo falar, comentar do que se foi
A canoa no longo rio de uma margem a outra
No mesmo ritmo, sem parar, sem voltar
Cada um que tentou, não se convenceu
Mas vi sonho, admirando o pai meu
Tracei minha vida às margens do Rio
Do pai eu vou cuidar em qual água, ainda mar
Mas só ouvia o silêncio da canoa, o sopro
Do vento e a corredeira do Rio, amiga fiel
Eu sempre na margem esperando algo sem saber
Sem nem imaginar o que poderia acontecer
Invernos, verões, primaveras, quantas delas
E eu a observar o meu pai envelhecendo no Rio
Um dia ele veio até a Margem, finalmente à Margem
Momento esperado, tanto tinha ensaiado, sonhado
Pediu-me que assumisse o seu o lugar na canoa
E eu estaria a navegar naquele mesmo rio longo
Andaria ele de uma margem à outra como fiz eu?
Tremor, temor, rancor, amor, não sei, não pude
Trocar de lugar com ele, já cansado do Rio, já
Cansado de tudo, já cansado das mesmas margens
Faltou-me coragem, faltou-me força, paixão
Mas a quem não faltaria?

Friday, October 8, 2010

As horas

As horas...
Demoram a passar
Insistem em se alongar
Não querem te trazer pra mim....

As horas...
Parecem parar
Ficam cada vez maiores
Não querem que eu vá até você...

As horas...
Tic-tac... Tic-tac
Num momento precisam ser vencidas
Tic-tac... Tic-tac
Por que hoje está ainda tão longe de amanhã?

As horas...
Tão cruéis são minhas companheiras
São elas que me distanciam
Mas em alguns tic-tacs me confortam
Dizendo que a hora de te ver está próxima...

As horas...
Tic-tac... Tic-tac…
Tic-tac... Tic-tac...
Mas ainda é sexta...
Mas ainda é final da tarde
Que venham todas as horas da noite
Que venham todas as horas da madrugada
E que venham todas as horas da viagem
Tic-tac... Tic-tac…
Até amanhã…

Eu tenho um ótimo gosto

Por que gostamos de entregar
Nosso coração a quem não o merece?
Porque o gostar não exige méritos...
Talvez fosse melhor olhar para
Quem também nos enxerga
Mas estaríamos fadados a uma vida
Sem inspiração, sem emoção ou luz
É certo que seria mais cômodo estar
Com quem tanto deseja nossa companhia
Entretanto, o brilho de nosso olhar desapareceria

Eu tenho um ótimo gosto:
Gosto do que é sincero
Gosto do que é autêntico
Mesmo que impossível
E gosto de sentir isso
Pois todo sentimento é possível

Por que gostamos de desperdiçar
O tempo com versos não lidos,
Não queridos, não valorizados?
Porque é a forma mais próxima
De sermos nós mesmos, sem qualquer temor
Por que gostamos de olhar para a pedra
E insistir em vislumbrar algo nela?
Por que a queremos tão especial
Se ela é apenas mais uma entre tantas?
Porque, entre tantas, ela é a única que
Traz cor e som, luz e inspiração

Eu tenho um ótimo  gosto
Gosto do que me traz paz
Gosto do que muito importa
Gosto de todo detalhe do olhar
Como poderia sofrer com isso
Já que tenho um ótimo gosto?

Wednesday, October 6, 2010

A palavra tudo

Avião, pára-quedas, roda, bicicleta
Espaço, tempo, chão
Luz, câmera, ação
Todas as coisas não cabem
Não cabem na mesma canção
As coisas do mundo não cabem
Não cabem num mesmo refrão
Mas estão aqui, estão contidas
Numa palavra de solidão

Tudo, o tudo que mata
Pode ser o tudo que constrói
Tudo, o tudo que é vilão
Pode ser um tudo herói

Arroz, panqueca, feijão, bisteca
Mola, pano, colchão
Moda, circo, pão
Todas as coisas não são
Não existem somente não
As coisas do mundo existem
Para nada mais do que senão
Serem companhia para salvar
O universo da solidão

Tudo, o tudo que nasce
Pode ser o tudo que morre
Tudo, o tudo que apaga
Pode ser o tudo que traz luz

Sol, estrela, casa, mansão
Manta, cadeira, paz, união
Areia, mar, sertão
Todas as coisas não cabem
Não cabem na mesma canção
As coisas do mundo não cabem
Não cabem num mesmo refrão
Mas estão aqui, estão contidas
Numa palavra de solidão
Tudo, tudo, tudo

Monday, October 4, 2010

Saudade Doi (autor: Miguel Falabella)

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania
de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet
e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald's;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

A ratoeira

               - Que queijo gosto... - PLAFT! Estava esmagado.

Thursday, September 30, 2010

Porque eu gosto de você

Eu gosto de você porque, pra começar, você é estranho.
                   Você não é igual a todo mundo; você é você.
Eu gosto de você porque você nunca me enganou e poderia tê-lo feito
                   Você tem um olhar sincero, confiável e verdadeiro
Eu gosto de você porque você é tão diferente de mim, mas com muita coisa em comum
                   Você me ensina a ver com uma óptica diferente aquilo que sempre vi
Eu gosto de você porque você nunca me dá as respostas que eu espero
                   Você vem com algo simples e prático, que sempre me arranca um sorriso
Eu gosto de você porque tem beleza externa e interna; profunda e consistente
                    Você é autêntico, humano e intenso, sem superficialidades
Eu gosto de você porque você me inspira a fazer coisas novas e melhores
                   Você tem algo bom e natural, que me incentiva, motiva e impulsiona
Eu gosto de você porque você me  ajudou a me conhecer melhor, sem ter medo do que sou
                   Você trouxe uma nova cor, um novo som, uma nova estação
Eu gosto de você porque você é educado, me tolera e me respeita
                   Você não me faz sentir menor pelo que eu penso, sinto ou sou
Eu gosto de você porque, mesmo na distância e na ausência, está presente
                   Você, mesmo sem saber ou se importar, faz uma grande diferença

Eu gosto de você porque eu gosto. Assim. De graça.
                    Sem esperar nada em troca
                    Sem esperar sua consideração
                    Sem esperar a sua atenção
                    Sem, tampouco, esperar o seu gostar
Eu gosto de você sem pretensão, sem ilusão, sem alienação
Eu gosto de você consciente de que tudo um dia se esvai
Eu gosto de você pois isso me faz mais feliz, mais humana, mais mulher. 

E mesmo se você deixasse de ser
                    Educado
                    Prático
                    Sincero
                    Estranho
Mesmo que você finja que eu não escrevi isso para você
Ainda assim, seria impossível eu deixar de gostar de você
Porque lá no fundo, talvez nem eu mesma saiba o porquê
Por que eu gosto de você?