Eu era jovenzinha quando minha mãe ficou muito doente. Um câncer raro-fuminante-injusto que a fazia, dia-a-dia, quebrar ossos com uma facilidade absurda. Já não podia andar e, em nossa casa, pra levá-la ao banheiro, eu tinha que levantá-la para que descesse um degrau alto da porta. Houve um dia em que eu estava sozinha com ela. Fiquei com medo se algo acontecesse. Foi, então, que um ser me apareceu e disse:
-Olá. Sou Deus!
Meu olhar de incrédula, dominou minha fala e me fez cuspir um: “Ah, é? Então prove!”
O sujeito apenas desapareceu e fiquei o dia todo com minha mãe. Aquele dia, ela estava se sentindo mal e fomos muitas vezes ao banheiro. Eu a levantava e a ajudava descer a escada. No final da noite o meu pai chegou e, ao auxiliá-la, com mesmos gestos e cuidados, o terrível aconteceu: suas pernas caíram como se soltas dentro da pele. Todos nós ajudamos até que a ambulância veio e a socorreu. Os médicos explicaram que os ossos estavam muito fracos e aquilo era pra ter acontecido muito antes. Era para ter acontecido enquanto eu estava sozinha e não sei contar o que teria sido da situação se eu realmente esivesse só com ela. Depois disto, ela partiu... Talvez ao encontro deste ser.
Passado algum tempo, inciei faculdade. Sonho de criança. Chegava muito tarde em casa, início de madrugada, e caminhava alguns metros sozinha. Certa noite, entre a o deserto das ruas, o ser novamente apareceu e disse-me:
- Olá. Sou Deus!
Minha resposta, mais uma vez cética, foi: “Ah, é? Então prove!”
Como sempre, desapareceu. O que surgiu fooi um homem, estatura mediana, cabelos grisalhos, na esquina da rua. Estava parado, olhando em minha direção. Senti um medo incontrolável, com as pernas bambiando, como se um sinal de alerta estivesse ligado. Ao invés de prosseguir, decidi voltar e me escondi atrás de um caminhão. Liguei pro meu irmão e pedi que fosse me buscar. Quando ele abriu o portão de minha casa, o homem estava parado no muro, como se me esperando. Nunca mais o vimos ou soubemos dele.
Tinha acabado de capotar meu carro, meio inconsciente, quando o ser apareceu com sua frase de sempre:
- Olá. Sou Deus!
Ele sabia que já estava convencida, mas, pra não perder o jeito, fiz questão de perguntar: “Ah, é? Então prove!”
Acordei com uma voz me chamando, no meio da rodovia: “Ei, moça, saia do seu carro. Consegue? Um caminhão vai passar e te jogar longe”. Despertei-me de vez! Consegui sair andando, com calma e me sentindo muito bem – sobretudo considerando o estado do carro; ou melhor, o pequeno pedaço que sobrara dele.
A última vez que tinha visto o ser tinha ocorrido há pouco tempo. Era muito tarde e estava andando por meu novo bairro, decorrente de uma condução mal tomada. Desci longe de casa e, ao ver o breu e o deserto do bairro, tremi.
- Olá. Sou Deus!
Como, nas outras vezes, o desafio havia provocado coisas boas, decidi dizer: “Ah, é? Então prove!”
Surgiu atrás de mim uma moça, muito gentil, dizendo:
- Moça, tá com medo?
Eu disse que estava sim e que morava um pouco longe. Ela indicou o caminho da casa dela e sugeriu caminharmos juntas. Ela morava ao lado de meu prédio.
E faz um tempinho que o Ser aparece todos os dias. Mas agora, já não faço tal pedido. Aproveito para falar sobre outros assuntos...