Monday, September 27, 2010

Eu não penso como ninguém! (então você pensa como alguém)

E tem aqueles que não gostam de sertanejo porque preferem as músicas clássicas, blues ou os estilos que poucos escutam (claro!)... Sentem-se diferentes, únicos por não irem “pela cabeça de ninguém”. E tem aqueles que obviamente não vêem novela porque preferem gastar o tempo lendo um livro bem complexo. E se enxergam dentro de um grupo seleto, quase como se fossem especiais, acima dos “outros”. São muitas situações em que aparecem: no gosto por comida, por literatura, por roupa e até por hobbies. Fogem à regra. Bem, mais ou menos.

Não precisaria ter sido um lingüista, mas foi. Foucault já dizia que sempre reproduzimos vozes ideológicas de outrem. Ou seja, nada do que pensamos, absolutamente nada, é puro. Tudo é construído a partir do que ouvimos, do que vivenciamos e do que selecionamos para nós (e esta seleção, por sua vez, também é condicionada por vários fatores). Somos sujeitos sócio-historicamente constituídos, totalmente influenciados pelo meio e contexto no qual estamos inseridos; e é impossível fugirmos desta realidade. Se criticamos o sertanejo pop (putz, fiquei sabendo que existe este termo!!!) é porque reproduzimos alguma voz que, em algum momento, nos convenceu de que este gênero musical não é “bom”. Se criticamos a atitude de alguém (normalmente porque temos o caminho da verdade em nossas mãos) é porque nosso conceito de certo e errado foi definido a partir de uma ideologia X ou Y. Nunca a mescla XY (não seríamos autênticos o suficiente para aceitá-la).

Tudo é influenciado e quando tentamos não nos deixar influenciar, inevitavelmente caímos num outro grupo. Já reparou como somos parecidos com os nossos amigos? Normalmente, curtimos as mesmas festas, as mesmas atividades, pensamos de forma semelhante... Não é à toa. Vamos nos aproximando de nossa(s) tribo(s). E excluímos as outras. Nos achamos melhores que elas. Superiores. Detentores de uma falsa verdade (eu odeio esta palavra).

O diferente mesmo é o que consegue transitar entre os grupos, sem julgá-los; que se interessa por conhecer cada espaço, cada pensamento e respeita a todos. É o que olha pro sertanejo pop, mesmo sem gostar, e enxerga alguma beleza (ainda não evolui a tal ponto) ou o que, mesmo sem entender, olha pro clássico erudito e tenta apreciar. Não é concordar com tudo, mas é saber discordar. Sem ofender. Sem se colocar acima do bem e do mal (aliás, o que seriam essas duas palavrinhas??).

O primeiro passo viria da humildade ao reconhecer que nossas ideias não são tão nossas assim. O único ser humano com ideias puras foi Kaspar Hauser (se é que ele realmente existiu). Aquele criado num calabouço e que acabou assassinado porque, mesmo com sua inocência intrínseca, conseguia pertencer a grupo nenhum. Dizia o que lhe ocorria à mente. Sem preconceitos. Sem medos. Bom, mas ele me dá ideia para um outro texto...

A verdade é que, ao tentar ser você mesmo, você já está sendo uma outra pessoa. É
o grande paradoxo de nossa existência, maior até do que o fato de que, ao nascer, começamos a morrer.

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