Friday, March 15, 2013

A CERCA

A cerca estava bem depois daquela árvore. Um dia me levantei pela manhã e ao caminhar notei que haviam-na mudado de lugar! Meu espaço agora era menor, mais limitado. Entristeci-me. Gostava de me sentar debaixo da árvore, desfrutar da sombra e poder chamá-a de minha... Minha árvore... Não temos nada nessa vida que esteja fora da nossa mente. Agora me impede a cerca de caminhar até onde eu costumava me refugiar, onde pensei ter segurança, certeza de aconchego. O rio que me banhava nas tardes quentes também ficou pro lado de lá da cerca. Nos dias de trabalho agitado, da lida puxada, não sei onde mais me refrescar. Também me agradava cuidar do espaço, carpir e podar, mas agora já não minhas mãos tocam aquele solo. Não posso entrar onde não me deixam, não posso cuidar, não posso aproveitar... Ao menos contemplo, e sim isso me é um consolo. Concedido. Pode ser que um dia me permitam passar por baixo ou superá-la com um pulo, para uma ajuda qualquer, um favor amistoso. Contudo, sinto que não tirarão a danada do novo lugar. No final do dia teria de voltar pro meu canto, sem esperar nada em troca, sem cobrar que me cedam um pedacinho da terra.
Todos os dias ao levantar-me vou correndo ver se algo se modificou, se posso ir além do limite de ontem, mas nada... A cerca continua encurtando o espaço que pensava erroneamente possuir. E mesmo sem ter uma placa, posso ler o aviso que está por toda a cerca: “Daqui você não pode passar! Afaste-se!”. Dá também pra ver a árvore que é de não-sei-quem.

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