Certa vez conheci uma mulher muito doce e que tinha o amor no olhar. Ela nunca precisou falar muito comigo, pois só do jeito dos seus olhos percorrerem os meus, já conseguia adivinhar o que ela queria de mim. Era uma mulher muito sonhadora, que adorava escrever os seus pensamentos em papel, muitas vezes, se permitindo espalhá-los pela casa inteira. Mas era tão transparente e tinha atitudes tão concretas que sempre era possível ter a certeza do que ela pensava. Tinha uma simplicidade tão admirável... Não me lembro de tê-la visto reclamar de suas más condições financeiras ou por não poder ter algo material. O seu único sonho de cunho materialista era ter uma casa; não uma mansão, nem um barraco: uma casa digna onde pudesse manter-se como dona. Aliás, não sei se conhecerei uma mulher tão dedicada à família como esta. E não era obrigação, pois, por vezes, houve possibilidade de deixar de ser uma “dona-de-casa”, mas era uma vontade de cuidar da família, de ter certeza de que todos comeram bem, e estavam vestindo as roupas mais limpas do mundo ou, ainda, se estavam confortáveis em casa. Realmente, era uma mulher encantadora e conquistava a todos com o seu jeito sincero de ser. Estava sempre rodeada de gente por isso. Não houve nada nesta vida que esta mulher não tenha perdoado. Logicamente, houve quem a tenha magoado, talvez até sem intenção, ou por achar que haveria um tempo posterior para desculpar-se ou mudar de atitude com ela. Mas em seu último olhar, o qual presenciei, havia um amor maior ainda, como se estivesse fazendo, de alguma forma, um último sacrifício por aqueles a quem tanto amava. Aos domingos havia um encontro secreto no quarto desta mulher. Seus filhos e esposo ficavam horas amontoados na mesma cama contando os fatos da semana. E, quando necessário, esta mulher mostrava toda a sua sabedoria. Obviamente ela tinha muitos defeitos, mas de tão pequenos, os considero descartáveis. Também me iludi achando que teria mais tempo de aproveitar todo aquele carinho, aquela sabedoria, aquele amor... Arrependo-me de não ter investido mais tempo com esta mulher tão maravilhosa. Hoje, há tantas perguntas sem respostas, tantos conselhos mudos... Sinto-me muito desprotegida sem a força e a garra desta mulher. Mas não, não posso reclamar ou me lamentar. Jamais. Jamais quero decepcionar uma mulher que mesmo com dois braços quebrados aprendeu a bordar; que tendo três meses de vida, tinha uma esperança infinita de viver; que em seu leito de morte cantou uma última canção ao invés de chorar. Ela se foi com sua fé inabalável, com sua força inconfundível e com sua coragem imensa. Já são tantos anos, mas ainda me pego preparando homenagens “de dia das mães” para esta mulher que fez muito mais do que me trazer ao mundo.
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