de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre" - Carlos Drummond de Andrade
Dessa vez não fui que puxei conversa. Eu estava na minha sala, de pernas para o ar, após minha corrida diária. Nem sei sobre o que pensava, agora cabeça mais tranquila. Foi então que um dos bordados de um dos quadros peruanos que ornamentam minha sala me chamou pra uma conversa. Era o próprio Inti, deus sol deste sábio povo. “Ei, você. Preciso mostrar-lhe algumas coisas”. Depois do Thomas e de minha TV falantes, nada mais me assustava e prontamente respondi: “Pois, não Inti, pode dizer. Fiz algo errado?”. “Não, não fez, mas queria revelar algo pra você. Não que seja digna ou merecedora, mas já que estou nesta sala há meses, e vi que não há muito movimento por aqui, quero compartilhar algo com você mesmo. Algo que muitos buscam, a chave da felicidade”. Fiquei atenta. Era tudo o que eu queria ter: a chave da felicidade. Quem não quer, afinal de contas, ser feliz? Pedi para que continuasse que não o interromperia. “Bom”, continuou ele, “primeiramente deve-se saber que todos já carregam consigo essa chave da felicidade. Não há quem seja mais ou menos privilegiado. Todos somos iguais. O que nos leva à felicidade é o amor. Quanto mais amamos, mais somos felizes. É necessário amar o que temos, os problemas que enfrentamos; é importante amar a vida e a morte também; temos que amar a tudo ao nosso redor; nossos amigos e inimigos. Não se pode perder isso de vista. O amor é capaz de curar todas as mágoas, perdoar, entender, superar. Tudo isso nos leva a felicidade. Não há inimigo mais mortal para nós mesmos do que a raiva. Ela é a única coisa no mundo capaz de abalar nossa paz de espírito. Se você não gosta de alguém, pode ficar longe, se defender, mas da raiva é impossível. Mas veja que o Amor é capaz de combatê-la. Mandá-la para longe!” Eu argumentei, dizendo que achava tudo muito bonito, mas pouco aplicável. “É que as pessoas querem acreditar que amor é algo rápido de se conquistar e fácil de se manter. Não é. Assim como é necessário lutar contra sentimentos negativos, é um desafio nutrir sentimentos bons, sobretudo o amor. Mas é por isso que todos vocês estão nesta terra, para aprenderem a amar. Só isso. E quando se aprende a amar, se aprende a respeitar, a lutar pelo próximo, a defender este solo... O amor faz tudo isso por si só. É o centro de tudo. Todavia, querida, realmente, não é algo fácil. Eu fico olhando pro mundo e não consigo entender. As pessoas só pensam no prazer individual e passageiro. Não querem construir nada para suas vidas, não querem construir o amor”. “Mas, Inti, a vida é muito curta mesmo, devemos mais que aproveitá-la”. “Sim, realmente. É muito curta, mas por isso mesmo, todo o aproveitamento deve ser vivenciado e experimentado sobre os nossos valores, os pilares do que nos tornam autênticos e nos conduzem ao amor. Amar quem gostamos e quem nos faz bem é fácil. Difícil é amar o que nos faz mal, o que nos incomoda. Entenda: amar não é aceitar. Você não vai amar um político corrupto, mas por amor a ele e por amor aos seus concidadãoes, deve lutar para que sua conduta seja aceitável e coerente. Conformismo não é amor. O que quero que entenda, é que o amor é o único sentimento que transcende culturas, religiões e crenças. É o que nos impulsiona a ser melhores”. “Tudo bem, mas você mesmo afirmou que não é fácil amar o tempo todo. Como lidar com isso, então?” “Bem, como disse, o amor precisa ser construído e, para isso, devemos alimentá-lo com gestos concretos de amor. Por exemplo, um casal apaixonado. Se esperarem a vida toda que o amor esteja resumido a cartinhas sentimentaloides, estarão perdidos. O amor, muitas vezes, troca essas cartinhas pelo bilhete na geladeira ‘Querido, deixei seu almoço pronto’. Amar é isso. Atos simples mas que dizem muito, que interferem na vida e a transformam em algo melhor. Mas, com certeza, há de se ter vigilância, pois muitas vezes, queremos um retorno, mas o verdadeiro amor não exige isso. Como disse um poeta. Ama-se porque se ama”. “O que não entendo é onde isso nos leva, afinal”. “Ora, para a felicidade! O amor nos leva experimentar momentos de felicidades, mas momentos concretos. Não algo que passa e se transforma depois num grande vazio. O amor é capaz de nos trazer uma alegria duradoura e permanente. Agora que tem essa chave, use-a imediatamente. Aprenda a amar e ser amado. Não tenha medo do que te faz crescer, mas também te faz feliz”
E um silêncio se fez. Inti parou de falar antes mesmo de me despedir. Suas palavras bonitas ficaram tempo ecoando na minha grande sala vazia. Uma paz tomou conta de mim e eu estava diferente.
Pude concluir, ao final dessas conversas, que existem três elementos básicos para a vida: Paciência, Fé e Amor. Desses três, o mais importante, como já cantado tantas vezes, é o Amor.
No comments:
Post a Comment