Monday, December 3, 2012

Crônica num restaurante da Liberdade

Ultimamente tenho pensado muito no que quero. No que espero como felicidade. Onde encontrá-la. Houve fases em que achei que ela estivesse nas roupas e, por isso, deduzia que quanto mais cara, mais felicidade haveria nela. Com o tempo, não notei diferença em meu estado de espírito e parti pra outra. Roupas não estavam com nada mesmo. Pelo menos, de guarda-roupa renovado com as melhores marcas do mercado, tinha conseguido uma vantagem sobre as demais pessoas e eu adoro uma vantagem...

Depois de algum tempo tentando equilibrar o pagamento das faturas do cartão de crédito, decidi iniciar uma programação de viagens. Pensei em alguns destinos mais exóticos, como Burkina Faso, ou algo mais próximo como Curitiba, mas as pessoas não iam conhecer ou não iam achar nada sofisticado estar numa capital do sul brasileiro (ainda se fosse o caro nordeste). Fiz uma lista pelos países mais desejados da Europa. Sim, porque as pessoas sentiriam inveja de mim, da minha felicidade ao conhecer tantos lugares lindos e deslumbrantes! E, se as pessoas acreditam que eu estou feliz, por que raios eu não posso acreditar também? Peguei um cartão novo e financiei minha viagem. Foi bacana e tudo, mas nada mudou em mim.

Ah, mas quando retornei da Europa, vi que meus amigos estavam em outra onda: saindo com garotas lindas e contando vantagem uns para os outros. Como estavam felizes, e como tirar vantagem é comigo mesmo, decidi que este seria meu novo passatempo: conquistar meninas, as mais cobiçadas do nosso meio! Bonito eu já sou, só precisaria encontrar uma forma de impressionar minha presa. As garotas gostam desses presentes caros, bons restaurantes com contas altas pra pagar no final... Sem falar que com meu investimento em viagem, cultura é que não me falta. Poderia me mostrar o mais entendido em culinária mundial e falar sobre minhas diversas experiências no velho mundo. Claro que não descreveria os dias perdidos por conta de ressaca e nem as verdadeiras situações embaraçosas pelas quais passsei por falta de idioma. Nunca gostei de estudar, afinal, o importante não é o quanto se sabe, mas o quanto você demonstra saber, não é mesmo? Bom, parti para minha caça numa noite agradável. Escolhi minha vítima. Era linda. E já tinha dispensado um monte de amigo meu. Fiz uma ceninha, mas não a convidei pra sair logo de cara. Pesquei que a mina gostava de vinho e tratei de pesquisar algo no meu grande instrutor Google. Tratei de decorar o nome de um vinho chique e numa outra oportunidade marquei nosso encontro. Meu carro não estava lá grandes coisas, mas já poderia explicar que em breve o trocaria, pois havia quitado o possante há apenas algumas semanas (claro que esse detalhe eu deixaria de fora). E lá fomos nós! Nem quis olhar no cardápio. Me fiz logo de “O” entendido e pedi a tal garrafa de Errrmitagê La Chapelê. Já tinha pesquisado também o que combinava com a bebida e dei a sugestão pra garota, que ficou totalmente impressionada com meus conhecimentos.

Conversa vai, risinhos, energia gracinha e eu estava certo que no dia seguinte poderia ligar para toda a galera contando sobre meu feito, ou melhor, minha fácil conquista. Mas eis que vem a conta. Quase dei um salto da cadeira e saí correndo. Após umas cinco linhas com a descrição do consumo, o valor absurdo de quarenta mil reais aparecia. “Deve haver algum engano”. Comentei com o garçon quase como uma súplica de socorro. “Senhor, há oito garrafas no mundo do incrível Hermitage La Chapelle. Bem, agora há seis, pois o senhor acaba de consumir duas. Não há qualquer engano.” Não tive o que fazer. Deixei o carro e o a diferença ainda passei em um dos meus cartões de crédito que não estava estourado. Fiquei a pé. Sem a garota e sem dinheiro. R$ 40 mil! E olha que o vinho nem era tão bom assim...

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