Estava eu sozinho em minha sacada admirando o céu, em uma noite qualquer, daquelas em que me sento sozinho em minha sacada quando, um raio de luz despencou do alto, fazendo um barulho estrondoso em meu quintal escuro. Minhas fantasias da infância, o lego de astronauta, sonhos adormecidos e varridos pelo tempo, vieram à tona. Ofegante, cheguei ao jardim com minha lanterna, vasculhando em busca daquele objeto não-identificado. Se tive medo? Quem não tem medo dos sentimentos que não conhece? Quem não estremece ao sentir o coração bater mais acelerado e o sangue correr mais rápido em suas veias? Mas tinha que encarar. Remexendo em alguns pequenos arbustos mal cuidados, encontrei: era um meteoro! Uma pedra rochosa enviado pelos deuses! Aquilo devia de significar algo. Tratei de acolhê-lo em meu lar. Sim, uma pedra tão especial não pode ser tratada de qualquer maneira. Tratei de colocá-la pra dentro, junto a mim! Não me importava os riscos de estar lidando com uma coisa completamente diferente de mim, tampouco algo que trazia consigo marcas (e quiçá bactérias) desconhecidas. Eu só tinha vontade de acariciá-la e mantê-la por perto.
Não demorou nada para eu me acostumar dormir olhando pra pedra. Pra mim, ela significava proteção, sorte, bênção e todas as coisas boas desse mundo. Todas as coisas boas desse mundo bem ali, na minha casa, comigo. Ninguém poderia imaginar.
Não saia da minha cabeça os detalhes da noite em que chegara até mim. A luz que fez resplandecer sobre minha casa, os sentimentos e sensações que em minutos conseguiu despertar. Decidi que dela não me separaria mais. Seria meu amuleto, meu guia e minha companhia pra toda uma vida. O que? Levar a pedra para ser analisada? Não me agradava nada, embora muitos curiosos, quando eu ia à feira, ao mercado ou outro lugar público, insistissem em tocá-la e em me questionar se aquela história de guardá-la comigo daria certo. Nenhuma opinião me importava.
No café-da-manhã, no almoço e no jantar, ela estava comigo, de uma forma ou de outra. Eu gostava de cuidar dela. Limpá-la, expô-la um pouco ao sol para que ficasse mais linda e resplandecente!
Mas por que eu estou triste? Bem... fico sem graça de contar, na verdade. Queria poder voltar no tempo, mas já não é possível. Um dia, quando eu a estava lustrando, eis que a deixo escorregar, sacada abaixo. Ela bateu em algumas partes do telhado e, lá embaixo, deu de encontrar com uma outra de sua espécie, mas terrestre. E espatifou-se. Em milhões de pequeninos pedaços, tão pequenos que já não seria possível uma reconstrução. Se foi, meu meteoro. Com ele muitas coisas em mim também. É. A vida é assim: tudo acaba rápido, ainda mais o que um dia caiu do céu.
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